A pandemia do coronavírus já espalhou casos por 71,5% das regiões brasileiras e avança em direção às cidades do interior, onde há menor oferta de Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) e respiradores. A conclusão é de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro. Eles comararam dados da semana de 27 de março a 23 de abril com os da semana de 17 a 23 de abril e constataram que a doença já é registrada em 100% das regiões mais populosas do Brasil.
A pesquisa diz ainda que o número de regiões menores com casos confirmados mais do que triplicou. A nota técnica com as informações foi divulgada ontem (4) pelo Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict/Fiocruz). O estudo usa dados sobre saúde da pesquisa Região de Influência das Cidades (Regic), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que identificou os deslocamentos intermunicipais da população que busca serviços de saúde e agrupou as cidades em regiões.
O vice-diretor do Icict/Fiocruz, Christovam Barcellos, alertou que o Brasil não conseguiu conter a disseminação da doença dos grandes centros para as cidades menores, e isso vai gerar uma pressão sobre os sistemas de saúde.
“Se a gente já tem algumas dessas cidades maiores sobrecarregadas, com a interiorização podem começar a aparecer nelas muitos casos vindos do interior, como uma segunda onda. Por isso, Itália e China tentaram reter o fluxo entre regiões para limitar a epidemia”, disse o pesquisador, lembrando os bloqueios em Wuhan, na China, e na região da Lombardia, na Itália.
Na primeira semana analisada (27/03 a 02/04), a doença havia chegado a 158 regiões brasileiras (20,8%), número que saltou para 542 (71,5%) na segunda semana (17/04 a 23/04). Entre as 76 regiões que somam mais de 500 mil habitantes, 100% já registram casos e 88,2% já contabilizam mortes causadas pela covid-19.
Falta de UTI afeta as pequenas cidades brasileiras
A nota técnica destaca que 50% das regiões de até 100 mil habitantes não têm leitos de unidades de terapia intensiva (UTI) e, quando considerada a presença de respiradores nos serviços de saúde públicos, as cidades menores também ficam atrás das maiores. A mesma nota considerou os números de respiradores de cada cidade em dezembro de 2019 e comparou com a população contabilizada pelo IBGE naquele período.
Enquanto as regiões com mais de 500 mil habitantes têm, em média, quase 20 respiradores no Sistema Único de Saúde – SUS – para cada 10 mil habitantes, entre as regiões de 20 mil a 100 mil habitantes este número gira em torno da metade.
(Com informações da Agência Brasil)
Foto: Divulgação/ Icict/Fiocruz