Uma questão que ganhou mais evidência ainda com a pandemia do coronavírus é a inclusão da pessoa com deficiência auditiva. Isso porque um dos maiores desafios é que as máscaras impedem a leitura orofacial por parte dessas pessoas, mas não devem deixar de ser usadas, pois previnem a propagação de Covid-19.
“Máscaras com transparência na região da boca são uma opção disponível no mercado e possibilitam que o deficiente auditivo (D.A) faça a leitura labial. Mas elas são usadas de forma mais restrita, geralmente por profissionais de saúde e/ou familiares que lidam diretamente com o D.A.”, observa a fonoaudióloga, Ameliana Carneiro, do SESI, instituição cujos profissionais de fonoaudiologia têm trabalhado no enfrentamento da crise por meio de informações pra as indústrias sobre a saúde auditiva em tempos de pandemia e a inclusão do deficiente auditivo.
Ameliana acrescenta ainda que mesmo a solução da máscara com transparência ainda não possui estudos ou informações fidedignas quanto à sua segurança e eficácia, pois muitas são confeccionadas de forma caseira. Outro fator a ser considerado, diz ela, é a propensão para embaçar a parte plástica, o que também compromete a leitura orofacial pelo deficiente auditivo. “A linguagem de sinais, embora seja outro recurso disponível para a comunicação do D.A., não é amplamente praticada pela comunidade ouvinte, ocasionando também prejuízos ao dinamismo desse contato”, acrescenta.
“Menciono ainda como dificuldade experimentada pelo D.A. nesse período de pandemia a compreensão das informações veiculadas nos meios de comunicação, pois muitos não contemplam o intérprete de Libras ou a legenda/ audiodescrição (closedcaption)”, lembra a profissional.
Para Ameliana, o que se pode fazer para melhorar essa inclusão é a acessibilidade às informações, por meio do uso de legendas, presença de intérprete de Libras em Unidades de Saúde, hospitais e clínicas, além do uso de tecnologias para facilitar a comunicação, como o Google Transcriter e o Google Tradutor. Outra medida recomendada pela fonoaudióloga do SESI é incentivar a participação do D.A. em grupos e comunidades em redes sociais de apoio e blogs, como a Central Libras/Coronavírus, os Programas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, da PUC do Paraná e aplicativos do Ministério da Saúde e Organização Mundial de Saúde. “A inclusão social está no centro de todos os fatores relacionados à saúde da pessoa com deficiência auditiva, incluindo a saúde mental, tão amplamente percebida nesses tempos de isolamento social”, destaca Ameliana.
Educação Profissional com Inclusão
Quando a aula on-line do curso técnico de Eletromecânica do SENAI de Parauapebas é iniciada, o Deivide Tomasi é um dos primeiros a entrar. Todo este interesse e dedicação já eram percebidos antes da pandemia, quando as aulas eram presenciais. Deivide, de 33 anos, é deficiente auditivo (D.A) e encontrou na inclusão proporcionada pelo SENAI uma grande aliada para superar esse momento difícil que a humanidade está enfrentando.
Para acompanhar as aulas on-line, ele conta com a intérprete do SENAI, Sandra Sousa, que de maneira simultânea transmite ao aluno o conteúdo ministrado pelo professor do curso. “É um grande desafio porque, além de ser um novo modelo educacional, eu acabo tendo que me aprofundar no assunto, pois há muitos termos técnicos. É preciso ter criatividade para passar o conteúdo de maneira sensível e didática”, diz Sousa.
A dinâmica, apesar de nova, tem dado certo. Segundo o próprio Deivede, o suporte que recebeu da instituição o motivou a continuar os estudos mesmo diante das dificuldades. “É um momento novo em que para nós, deficientes auditivos, tudo se torna mais difícil em relação ao acesso à informação. Mas com as ferramentas e profissionais que o SENAI nos disponibiliza, não tenho encontrado muita dificuldade neste acesso. Quando começou a pandemia, desanimei e pensei em desistir, mas com o apoio da família e do SENAI eu persisti e hoje estou feliz com a minha decisão”, conta o aluno.
Em Parauapebas, o trabalho de inclusão de pessoas com deficiência auditiva ganhou força no final de 2018, a partir de uma parceria com a Vale, quando foram capacitados 20 estudantes com D.A. O objetivo é seguir com essas capacitações. “Já confirmamos que a demanda existe e temos nos capacitado para atender esse público tão específico, mas com a mesma capacidade de aprendizado dos alunos ouvintes. O objetivo é avançar cada dia mais”, finaliza o diretor do SENAI Parauapebas, Felipe Francês.
(Com informações da Fiepa)
Foto: Divulgação/Acervo pessoal