Apesar da gastronomia e belezas diversas, a capital ainda não explora todo o seu potencial turístico. A cidade tem a possibilidade de se tornar uma referência no roteiro de viagens de quem tem curiosidade de conhecer a Amazônia, porém, o movimento maior é no mês de outubro, com o Círio de Nossa Senhora de Nazaré, festividade religiosa que atrai pessoas de todo o mundo até Belém do Pará.
Em 2019, por exemplo, a expectativa era de que 83 mil turistas visitassem a capital durante a festa religiosa, o que representava aumento de 3% em relação a 2018.
Cheia de encantos e particularidades, a cidade das mangueiras dispõe de lugares encantadores e de uma culinária ímpar. É o que acredita a presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Rosane Oliveira.
“Nossos cheiros e sabores são conhecidos mundialmente, além de nossas frutas e frutos, como o açaí. Tanto prova que temos o Título de Cidade Criativa da Gastronomia pela segunda vez. Por si só, o turismo gastronômico já coloca nossa Belém em destaque. O vai e vem de isopores nos aeroportos diz que os turistas estão levando preciosidades para não esquecerem das experiências que por aqui tiveram”, comenta.
Quanto aos atrativos físicos, a presidente da entidade cita o Ver-o-Peso, a Estação das Docas, ilha de Mosqueiro, distrito de Icoaraci, Combu, casarões, teatros e museus. São esses e outros destaques que atraem pessoas de fora, anualmente, no Círio de Nazaré.
Segundo o assessor jurídico do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Pará (SHRBS-PA), Fernando Soares, esse é o período de maior ganho econômico para o setor do turismo, movido pela culinária e hotelaria, principalmente. Apesar de não haver um número que mostre quanto esses estabelecimentos têm de incremento em suas vendas no mês de outubro, Fernando garante que os ganhos são altos.
“O Círio de Nazaré, por toda sua tradição, é o maior atrativo turístico de Belém. A capital paraense tem vocação turística natural, mas as pessoas descobrem a partir do Círio, e aí veem que temos as catedrais e igrejas, bosque, museu, outros pontos que não têm tanta divulgação fora. Nesse período, que é o mais forte da economia em Belém, a hospedagem fica 100% ocupada no final de semana da trasladação, e durante os 15 dias da festividade muitos turistas ficam em Belém. O valor arrecadado no Círio dura até janeiro, que tem movimento bem mais baixo”, pontua o profissional.
Fora da época festiva, o perfil da hospedagem paraense é empresarial, segundo o sindicato, em que os turistas vêm apenas a negócios, ficam cerca de dois dias e vão embora. Fernando ressalta que os visitantes de Belém não ficam uma semana fora do Círio.
Diálogo com o poder público é essencial
Com a pandemia do novo coronavírus, em que diversas atividades econômicas foram afetadas, o assessor jurídico do sindicato diz que a hotelaria, os bares e restaurantes enfrentam um momento crítico, com a baixa do turismo. Para ele, o que deve ser feito é uma articulação, com soluções, entre o governo estadual e o municipal, para alavancar o setor e ajudar os mais atingidos pela crise.
O historiador e presidente da Fundação Cultural do Município de Belém (Fumbel), Michel Pinho, concorda. De acordo com o especialista, as possibilidades para a potencialização do turismo na capital paraense são muitas, e o primeiro caminho é o diálogo entre as várias esferas públicas – federal, estadual e municipal –, capazes de promover o segmento em Belém.
“Isso é importante para que haja um mapeamento das áreas que precisam ser colocadas em destaque. Tem a gastronomia, por exemplo, mas também tem muitas outras”.
Ao longo dos mais de 400 anos, Michel acredita que foi construído um vasto patrimônio material e imaterial em Belém, sejam as manifestações arquitetônicas ou a fauna e gastronomia. Porém, o ponto forte do setor de turismo na capital é a diversidade. No entanto, há muitos desafios, segundo ele, como fortalecer a cultura local, o empreendedorismo local e a relação entre a população e os espaços públicos. Além disso, o presidente da Fumbel avalia que os gestores públicos devem incentivar e dinamizar iniciativas que já existem para atrair as pessoas para a cidade. Um deles é o Projeto Roteiros Geo-turísticos da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Já a presidente da Abrasel, Rosane Oliveira, argumenta que o primeiro passo para que se alavanque o turismo belenense é arrumar a cidade e mantê-la limpa, o que, para ela, atrai pessoas.
“Precisamos investir no turismo local, ter passagens aéreas mais acessíveis para que as pessoas conheçam Alter do Chão, mais divulgação das rotas. A Secretaria de Turismo precisa incentivar, junto à classe empresarial, projetos que possam ser divulgados, pacotes para aumentar as experiências locais e as ribeirinhas. Nosso turismo está voltado para a natureza e experiências de vida”, enfatiza ela.
Foto: Ascom / Ideflor-Bio
Informações: O Liberal