O boto tucuxi (Sotalia fluviatilis), um golfinho de água doce da bacia amazônica, entrou para a lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Agora, o mamífero é considerado uma espécie em risco de extinção. A situação é grave, porém, ainda reversível. As soluções começam com medidas simples, entre cidadãos comuns, e escalam até decisões de governo para reduzir os riscos e amparar pesquisadores envolvidos na preservação do animal.
Alexandra Fernades Costa, bióloga e doutora em Ecologia Aquática e Pesca, do Instituto Bicho d’Água Conservação Socioambiental, observa que quando uma espécie é incluída numa lista em condição de ameaça, muitos estudos foram feitos para chegar a essa conclusão. Em 2008, os dados relacionados ao boto tucuxi eram insuficientes. Em 2012, era uma espécie considerada quase ameaçada, vulnerável. E neste ano, ameaçada. Quase 12 anos evoluindo a uma situação de risco cada vez mais.
No Brasil, destaca a bióloga, as espécies marinhas costumam figurar mais nas listas de espécies ameaçadas. Isso por conta da intensa degradação do meio ambiente e que acaba nas águas. Há uma indústria forte que polui as águas em vários segmentos: hidrelétricas, monoculturas do agronegócio, mineração e tudo isso se acumula até chegar ao boto tucuxi e outros animais. O boto em questão, é um mamífero superior do ambiente aquático e do topo da cadeia alimentar.
Há ainda outras ameaças, mais específicas da pesca predatória, como redes de malha e pesca com explosivos. Em 2015, foi publicada uma moratória restringindo a pesca da piracatinga, um peixe que dificilmente é consumido no Brasil e tem como isca a carne de botos vermelhos (ou chamados de cor-de-rosa) e tucuxi. Também, lembra Alexandra, há misticismos acerca da espécie: os olhos, partes genitais e óleos são usados para fazer amuletos e infusões mágicas. Isso é algo que ainda movimenta a pesca dos botos de todas as espécies. Logo, não consumir esse tipo de produto é uma forma de descapitalizar esse mercado.
“As estratégias de preservação existem, mas são mais voltadas à educação ambiental. Nem tanto fiscalização e sabemos o tamanho que tem a Amazônia. As pesquisas até chegam aos órgãos fiscalizadores e a entrada do boto tucuxi numa lista de situação de risco de extinção é uma prova de que as ações não estão dando conta. As medidas precisam ser tomadas logo, pois como se trata de um mamífero, a reprodução é lenta e os resultados da preservação vão levar anos até que sejam alterados”, ressalta Alexandra.
Por fim, a pesquisadora lembra que cada organismo tem um papel na natureza. Se um elemento é retirado, as instabilidades podem ser percebidas de várias formas. Toda espécie animal e vegetal é importante e deve ser preservada pelo bem do equilíbrio ecológico e funcionamento da natureza como um todo. O peixe boi já esteve em condição de ameaçado. Evoluiu para situação vulnerável (um pouco menos grave). Então ainda há tempo de salvar o boto tucuxi, garante a Alexandra.
Foto: Reprodução/ No mar profundo
Informações: O Liberal.