Pelo menos 182 pessoas morreram em 142 naufrágios de barcos desde 2017 nos 16 mil km de rios na Amazônia. A conclusão é de um levantamento realizado pelo UOL com informações das seis Capitanias dos Portos que fiscalizam a malha hidroviária da Amazônia. Esses dados mostram que no último triênio ocorreu uma média de 49 naufrágios por ano nos rios da região.
O debate sobre a segurança da navegação e das embarcações na região Norte voltou à tona com o naufrágio, no dia 29 de fevereiro, da embarcação “Anna Karoline 3”, no sul do Amapá. O acidente deixou 29 mortos, segundo dados do Governo do Amapá.
Escalpelamentos
Além dos naufrágios e mortes, há ainda o problema histórico dos escalpelamentos em pequenas embarcações. Entre 2017 e 2019, foram registrados pela Marinha 13 casos. Na média histórica, 65% dos casos envolvem escalpelamentos envolvem crianças.
Os acidentes ocorrem por conta do eixo da embarcação não ser coberto, em que cabelos longos e não presos enroscam e são violentamente arrancados junto o couro cabeludo.
As viagens na Amazônia ocorrem há séculos por pura necessidade: as áreas mais remotas não têm ligação por estradas. O transporte aéreo, que seria a outra forma, é inacessível à população, que tenta achar embarcações baratas e perigosas.
Um barco pode navegar por dias e noites por rios amazônicos para chegar ao destino, em uma região sem cobertura por sinal de telefonia ou internet e com pouquíssimo policiamento. Sem quartos suficientes, a dormida ocorre em redes armadas dentro das embarcações.
Uma viagem entre Manaus e Belém, por exemplo, leva cinco dias, numa das rotas mais visadas por assaltantes, ou os “ratos d’água”, como são conhecidos na Amazônia. O alvo nem sempre são os passageiros, mas muitas vezes são as cargas ou mesmo o combustível.
Números gigantes
Segundo o último levantamento da UFPA (Universidade Federal do Pará) e Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários), de 2017, são 9,7 milhões de passageiros que transitam de barco, com 3,4 milhões de toneladas de cargas levadas. Ao todo são 196 terminais hidroviários na região, com cerca de 30 mil embarcações registradas.
De acordo com Hito Braga, diretor da Faculdade de Engenharia Naval da UFPA, os números não devem corresponder a realidade. “São 9 milhões passageiros por ano que a gente sabe por portos oficiais, fora os que a gente não sabe. Acho que é até o dobro disso”, diz.
Braga explica que o transporte de barco é crucial para o desenvolvimento da Amazônia.
“É por ele que a região se retroalimenta, ou seja, faz a troca comercial e leva pessoas de um lado para o outro. Aqui é a única opção que o passageiro tem, porque avião é caro e estradas não existem. Ou vai de barco ou não vai”, completa.
A baixa renda dos moradores da região acaba os levando a buscar viagens mais em conta — e nem sempre seguras. “Ele não tem condição de pagar uma embarcação sofisticada e mais segura, e muitas vezes vão em embarcações reformadas, de madeira. E para compensar a viagem, o barco acaba levando carga — só passageiro não consegue remunerar. Aí a embarcação leva carga excessiva e compromete a segurança da viagem”, aponta.
(Com informações do UOL)
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