O escritor paraense Edyr Augusto Proença lança seu novo livro “Belhell”, em Belém, nesta quinta-feira,05/03, a partir das 19 horas, na livraria Fox, bairro de Batista Campos, depois de o livro ter sido lançado em São Paulo (SP). Belhell é Belém, capital paraense, que, mais uma vez, pelas mãos de Edyr Augusto, se vê transformada não em cenário, mas em um verdadeiro personagem desse brevíssimo romance urbano.
As ruas, avenidas, becos, lanchonetes, clubes, casas noturnas, prostíbulos e hospitais de Belém são redimensionados pelas ações de Gil, Paula, dr. Marollo, Paulo e Sérgio Aragão. Contudo, é no clandestino cassino Royal, entre dados, cartas, fichas, dinheiro, uísque, cocaína, sexo e regras precisas, declaradas ou não, que o destino dos protagonistas é fatalmente posto em jogo. Uma narrativa que dá forma literária às diversas manifestações da violência cotidiana, revelando que o submundo está bem mais próximo do que ousamos imaginar.
Após o sucesso de “Pssica” (2015), Edyr Augusto lança “Belhell”, sua sétima obra literária, todas publicadas pela editora Boitempo. O paraense tem uma carreira consolidada como romancista de histórias ácidas e cruas, com forte sotaque, a umidade e os dissabores da Amazônia. Seus thrillers incomodam e seduzem, mas também propõem reflexões sobre problemas encontrados em qualquer cenário urbano.
O autor teve quatro romances publicados na França nos últimos anos: “Os Éguas” – que por lá saiu com o título “Belém” e recebeu o prêmio Caméléon de Melhor Romance Estrangeiro, na Université Jean Moulin Lyon 3 -, em 2013; “Moscow”, em 2014; “Casa de Caba” (“Nid de Vipères”), em 2015; e “Pssica”, em 2017.
Em 2020, quase simultaneamente a seu lançamento no Brasil, “Belhell” será publicado na França pela editora Asphalte, que publicou todos os livros anteriores de Edyr naquele país. A obra “Pssica” teve seus direitos comprados pela produtora 02 Filmes, e será o primeiro longa-metragem dirigido por Quico Meirelles.
Submundo de Belém – O escritor paraense Edyr Augusto tem um método de trabalho desenvolvido quando exercia a função jornalística e hoje é precioso para sua carreira literária. Todos os dias, ele frequenta determinada regiões de Belém, normalmente as que não figuram em cartões-postais, em busca de histórias impressionantes, mas demasiadamente humanas. “Sempre morei no centro da cidade e lá converso com prostitutas, craqueiros, engraxates, camelôs, ‘olhadores’ de carros, motoristas de táxi”, conta. “Sou um ouvinte atento, me interesso pelos relatos, pela cadência das falas, afinal, o escritor é uma espécie de esponja”, pontua.
“Belhell”, lançado pela Boitempo, é uma contração do nome da capital paraense com “hell”, inferno em inglês. O resultado, portanto, é uma trama aparentemente mirabolante, mas que Augusto jura ter inspiração na realidade. É o caso de um submarino que traficantes construíam para transportar drogas pelo rio Amazonas – a polícia descobriu a tempo -, quando já havia um protótipo na região de Salgado, área de encontro de rios com o oceano Atlântico.
Cassino – O foco de “Belhell” é um assunto que há anos fascinava Augusto, os cassinos clandestinos. É, portanto, no Royal, que o destino dos personagens se cruzam e se definem, entre carteados, dados, uísque, cocaína e sexo. “Minha intenção era mostrar o triângulo da cobiça que envolve esse delito”, conta o escritor, cujos personagens foram todos baseados em figuras conhecidas por ele.
Apenas uma é ficcional: a garota Paula que, de entediada, se torna uma excelente jogadora de cartas ao acompanhar o avô em uma sessão, a fim de espantar o enfado. Primeiro, a jovem limpa os amigos de seu Cosme; depois, sua habilidade chama atenção de um escroque, Samuel, que a contrata para rapelar jogadores mais polpudos. “Paula foi inspirada em uma história que ouvi quando fui, certa vez, a São Paulo, sobre uma menina que aprendeu os truques do carteado e se tornou uma grande jogadora, levando o dinheiro de várias pessoas”, adianta o autor.
Em ‘Belhell’ há uma sucessão de fatos que acontecem simultaneamente. Assim, ao mesmo tempo em que se acompanha a ascensão de Paula no mundo do pôquer proibido, o leitor é apresentado também a Zazá, a moça que, por conta do nanismo, é abandonada pelos pais e acaba na prostituição.
Violência – A história também impressiona pelo grau de violência, especialmente pela trajetória de Aragão, funcionário de um hospital que, nas madrugadas vagas, assassina mendigos com um fio cortante, provocando cortes profundos no pescoço. Seu prazer atinge um ponto máximo quando a vítima, já morta, libera os intestinos, e, nesse instante, Aragão tem um orgasmo.
“Sou direto quando escrevo cenas de sexo e violência, sem esconder nada”, comenta Augusto. “Eu me inspiro em autores que admiro muito como Rubem Fonseca, Dashiell Hammett, Bret Easton Ellis”, entrega.
Serviço: Lançamento do livro “Belhell”, de Edyr Augusto Proença (editora Boitempo), nesta quinta-feira, 5, a partir das 19 horas, na livraria Fox (travessa Dr. Moraes, 584, entre Conselheiro Furtado e rua dos Mundurucus). Entrada franca.
Foto: Divulgação/Edyr Augusto Proença